Notas de celular, escritos de madrugada (I)

Pois se não lemos, o que fazemos?

Ficamos como bestas.

Acordamos para dormir e dormimos para acordar.

Entre uma coisa e outra temos um emprego.

Esta é a opinião de um amigo meu, mas sempre que ele me diz isso eu digo a ele que não o faça, pois bestas são animais, e até onde sei animais não podem juntar letrinhas.

Ele me diz que eu sempre acho tudo pior do que realmente é, e que eu sempre digo qualquer coisa só para discordar de tudo.

Com tipos como esse que pensam estarmos a criar e dizer o pior, nunca podemos concordar.

Perdoai-vos, é gente que não sabe o que se passa.

30 de agosto

Era domingo de BigMac para as criancinhas com câncer. O único do ano todo.

Na noite anterior eu havia recebido de um médico dois vale-BigMac´s que distribuíram para quem trabalha no Hospital do Câncer. Ele me disse: “Você gosta de BigMac?”, eu respondi: “Tirando o picles, tudo bem.”, “Então tome pra você e sua namorada, BigMac´s de graça, mas só vale amanhã, hein.”. O médico era meu pai.

Era domingo e deu praia. Depois da praia pedimos árabe na casa dela. Um pouco de trabalho no computador e alguma série americana na tevê.

Eu esqueci dos vales amassados na carteira. Esqueci de comer o meu BigMac, esqueci do BigMac da minha namorada, esqueci da gentileza do meu pai, esqueci das bocas passando fome e esqueci das criancinhas com câncer.

O quão trágico é isso?

Diversos Afins 36

Nesta trigésima sexta edição da revista Diversos Afins, foi publicado um conto meu e vocês podem acessá-la clicando no título deste post. Nessa edição ainda há um conto de Maurício Almeida, vencedor do prêmio sesc de 2007 na categoria contos (http://www.mauriciodealmeida.blogspot.com/), uma ótima entrevista com o escritor e pintor W.J. Solha (que ilustra toda a edição), e outros atrativos como poesias e uma resenha de Marcos Pasche sobre o filme "Se nada mais der certo". A Diversos vem fazendo um belo trabalho e vale a pena conhecê-la.