15.9.10

Homem e mulher passam pelo pavilhão dos cancerosos; um poema de Gottfried Benn

O homem:
Nesta fila aqui estão ventres apodrecidos
e nesta está o peito apodrecido.
Lado a lado camas malcheirosas. As enfermeiras revezam-se a cada hora.
Vem, levanta sem medo esta coberta.
Vê, esse monte de gordura e sumos putrefatos
para um homem um dia já foi tudo,
também foi êxtase, lar.
Vem, olha esta cicatriz no peito.
Sentes o rosário de pontos moles?
Toca, sem medo. A carne é mole e não dói.
Esta aqui sangra como se de trinta corpos.
Ninguém tem tanto sangue.
Desta aqui ainda tiraram
um filho do ventre canceroso.
Deixa-se que durmam. Dia e noite. — Aos novos
diz-se: aqui o sono cura. — Só aos domingos
para as visitas podem estar mais despertos.
Já se come pouco. As costas
são feridas. Vês as moscas. Às vezes
a enfermeira lava. Como se lavam bancos.
Aqui o solo já incha em torno de cada leito.
Carne nivela-se à terra. Brasa vai-se embora.
         Sumo começa a correr. Terra chama.